Universidade setorias unem empresas

Marisa Eboli, especialista em universidade corporativa, acredita que as universidades setoriais são uma alternativa para pequenas e médias empresas

mMarisa: "empresas investem em capacitação para mos negócios"

Depois do aparecimento das universidades corporativas (UC´s), criadas por empresas preocupadas em vincular o desenvolvimento de pessoas com as estratégias de negócios, surge um novo movimento: o das universidades setoriais. As competências críticas, antes trabalhadas internamente pelas organizações, tanto públicas quanto privadas, começam a ser compartilhas por organizações que atuam no mesmo segmento, com o objetivo de aumentar o patamar de desempenho do setor, elevando o patamar de qualificação dos trabalhadores. A Universidade Secovi, instituída pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo e a da UAL-Universidade do Alimento, voltada às necessidades da indústria alimentícia, são alguns exemplos. O segmento de distribuição e o setor de medicina em grupo também estão antenados neste novo sistema educacional corporativo.

Para Marisa Eboli, especialista em universidade corporativa e autora de uma das únicas publicações brasileiras sobre o assunto (Universidades Corporativas: educação para as empresas do século XXI, Schumukler Editores, 1999), “não se trata mais do desenvolvimento do conhecimento dessa ou daquela empresa, mas sim de uma categoria profissional como um todo”. Segundo ela, as universidades setoriais são uma grande oportunidade para que empresas de pequeno e médio porte possam se agrupar e investir em um sistema de educação corporativa.

A docente ressalta, porém, que “não há um modelo padrão de educação corporativa para se ter uma UC bem-estruturada, mas existem alguns princípios de sucesso que devem ser contemplados nos projetos para que as práticas inerentes ao modelo educacional de uma universidade corporativa sejam eficazes”.

A especialista lembra ainda que o principal motivo para o desenvolvimento de uma UC, modelo conceitual para a formatação das universidades setoriais, é a intenção da empresa direcionar a área de formação de seus profissionais para as estratégias de negócio. Não se trata, porém, de substituir o papel das universidades tradicionais. “Não é papel das Escolas de Administração capacitar seus alunos para determinada atividade ou negócio de uma empresa”, diz Marisa. A formação acadêmica recebida de uma universidade tradicional está pautada no domínio de bases científicas, filosóficas, humanísticas e éticas, além, é claro, do desenvolvimento da pesquisa, nem sempre realizado pelas organizações.

“O papel das empresas é outro. Ela está preocupada com a formação profissional que possa atender as estratégias do negócio. Se antes essas empresas podiam esperar que os profissionais recém-formados pelas universidades tradicionais levassem anos para aprender naturalmente, através da experiência sobre o negócio, agora isso não é mais possível”, comenta. A mudança é fruto do cenário competitivo e globalizado que as empresas enfrentam.-

“Pode-se de dizer que as universidades corporativas estão para o conceito de competências assim como os tradicionais centros de Treinamento e Desenvolvimento (T&D) estiveram para o conceito de cargo”, compara a especialista. Normalmente as instituições que pretendem investir em UC´s começam com curso de MBA customizado a partir de necessidades específicas de setor que atuam”, lembra Marisa. Os casos mais bem-sucedidos contam com parcerias com universidades como a USP, FGV, ITA, UNICAMP, entre outras.

Para Marisa uma universidade corporativa trabalha com a gestão das competências. Vale lembrar, que o treinamento oferecido pelos antigos centros de T&D eram orientados na busca de soluções para casos pontuais que envolviam a atualização de métodos e processos com foco nos indivíduos. Já as universidades corporativas são orientadas para as tendências dos negócios, qualificação tanto técnica quanto profissional de seus colaboradores e promoção da educação permanente e as múltiplas alternativas de aprendizagem. Essas alternativas não estão apenas alinhadas à estratégia organizacional e o desenvolvimento dos funcionários, mas também de outros elementos da cadeia de valor da empresa, como clientes, fornecedores, distribuidores e parceiros.

A qualidade de um Sistema de Educação Corporativa depende da qualidade de pensamento de seus idealizadores, que no entender da especialista deve ser balizado pelos sete princípios (vide leia mais) abaixo.

Origem das UC´s

A primeira universidade corporativa que se tem conhecimento foi fundada em 1955 pela General Electric. Desde então, a preocupação em tratar o conhecimento como vantagem competitiva têm crescido consideravelmente dentro das organizações. Só para se ter uma idéia, nos Estados Unidos, atualmente, são mais de duas mil, ressalta Marisa.

Empresas e instituições de vários segmentos, sediadas em países iberoamericanos também contabilizam suas experiências. Techint (Argentina), Agbar, Endesa e Unión Fenosa (Espanha), Cemex (México), Grupo Sonae, Associação das Empresas de Portugal e Instituto de Formação Bancária (Portugal) e Petróleos de Venezuela (Venezuela) são alguns casos de significativos direcionadas ao processo de aprimoramento de competências.

No Brasil são cerca de 80 universidades corporativas entre elas empresas do setor financeiro, de telecomunicações, serviços, associações de classe, empresas aéreas, do setor automotivo, entre outras.

(Dulce Rocha)


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