Autoconhecimento torna-se ferramenta para gestão de pessoas

Gustavo Boog, consultor

"Não deixamos a dimensão profissional para entrar na humana. Exercemos papéis diferentes mas somos indivisíveis, únicos". Essa frase, do consultor Gustavo Boog, resume as apresentações realizadas no bloco "Dimensão pessoal", durante a 13ª Jornada AAPSA. Boog, ao lado de Nuno Cobra, instrutor de atletas e empresários que vem realizando consultoria em desenvolvimento humano em grandes empresas, abordaram as dificuldades, as técnicas e as vantagens do autodesenvolvimento.

A partir da definição de dimensão humana como processo de crescimento individual do colaborador, Boog falou sobre as ações dos profissionais de RH que podem inserir o desenvolvimento das pessoas no contexto organizacional. Para ele, a empresa deve mobilizar esforços e habilidades dos profissionais não só para atender aos interesses da organização, mas também criando oportunidades de aprendizagem, elevando a auto-estima e proporcionando o reforço positivo, ou seja, elogiando e reconhecendo seu trabalho. "A área de gestão de pessoas é aquela que dissemina tecnologias para que os líderes possam exercer melhor esse papel", afirmou Boog.

O consultor definiu a administração de competências, forte tendência dos dias atuais, como uma maneira de gerir que está ligada à capacidade das pessoas em liderar, gerenciar mudanças, comunicar-se, trabalhar em equipe e ter foco nos resultados. "E o que está atrás dessas competências gerenciais? ", questionou Boog. Segundo ele, habilidades da "alma" como ser corajoso, responsabilizar-se, ter auto-estima, humildade, aceitar e ser paciente. "Os profissionais de RH precisam lembrar que as habilidades da alma são os tijolos que constróem as paredes da gestão de competências."

Para Boog, o gestor deve atuar em três campos de ações para desenvolver essas habilidades em seus colaboradores. A primeira delas seria ter visão do futuro, ou seja, ter clareza de que tipo de Recursos Humanos ele está construindo na organização e quais são os objetivos que guiam a formação de seus profissionais. Em segundo lugar é preciso que o administrador de pessoas conheça a si próprio e saiba como os outros, dentro da organização, o vêem. Por último, é necessária a condução de ações de "cura" nos níveis físico (exames anuais, esportes, alimentação, relaxamento), emocional (terapias, música) e espiritual (oração e meditação), as três balizadas, em primeiro lugar, pelo autoconhecimento, tanto do gestor quanto do colaborador. "Não podemos curar nossas empresas, nosso setor de RH, se não nos curarmos primeiro. Não ajudamos ninguém se não nos ajudarmos", afirmou o consultor.

Voltando às origens:

O que pode interessar, a um gestor de RH, as palavras de um instrutor físico, famoso pelo treinamento de atletas como Airton Senna e de empresários como Abílio Diniz? Muito, se esse profissional dedicar seus conhecimentos sobre o desenvolvimento corporal ao crescimento dos recursos humanos de grandes empresas. Assim, Nuno Cobra defende que, para haver uma organização em equilíbrio e harmonizada, é necessário equilibrar cada uma das pessoas que formam a organização, por meio de muitas horas de sono, alimentação saudável e atividade física regular. "A empresa é conseqüência do que somos."

Nuno Cobra, consultor

"A organização é formada por pessoas e não por indivíduos. Falta entendermos o ser humano como essência de todo o resto que acontece". Aí está o eixo central do trabalho de Cobra: a (auto)valorização das pessoas. "Somos o que achamos que somos. Somos o que pensamos", disse o consultor.

Para ele, quando crianças, todos nós possuíamos vigor, energia e encantamento perante a vida. Porém, isto nos é tirado devido ao que ele chama de "tripé da anulação", formado pela família, pela escola e pela religião. No primeiro caso, os pais reprimem a movimentação, a expansão da criança, ou seja, o desenvolvimento da coordenação motora, que, segundo Cobra, estimula a inteligência. Além disso, eles também fornecem as crianças os "reforços errados". "O que a criança mais quer é ser percebida, mas os pais só lhes dão atenção quando elas estão doentes, tristes. Isso reforça a tristeza. E a criança fica triste, porque triste é a humanidade", declarou.

Nessa fase, inicia-se na criança o que o instrutor intitula de "Programa de Autodestruição", que será "aperfeiçoado" ao longo da vida. A figura do pai - substituída pela do chefe na vida adulta - exerce o papel de castrador, desenvolvendo na criança o sentimento de inferioridade. "O pai, que quer ser rigoroso, chama a atenção toda vez que a criança erra, e nunca a elogia. Mas nós nunca podemos deixar de elogiar, de estimular", afirmou. Acrescido a isso, a anulação das potencialidades humanas exercidas, segundo Cobra, pela forte repreensão do ensino e da Igreja completa o tripé da destruição pessoal. "Somos treinados para ser tristes. Ser alegre não faz parte do ser humano. Por isso nós nos anulamos, nos agredimos, nos violentamos." E completou: "Temos dificuldade em acreditar que nós podemos. Mas nós só vamos até aonde achamos que podemos ir."

A fim de resgatar as raízes de vencedor - que, segundo Cobra, tínhamos quando crianças e que nos foi tirado pela sociedade - o consultor acredita que é necessário desenvolver o corpo, a fim de encontrar as origens de tudo, ou seja, o cérebro. "Procuro, através do corpo, o caminho para chegar às nossas emoções, ao nosso espírito, ao nosso desenvolvimento", disse. "Não podemos conseguir a felicidade sem a saúde. O problema é a preocupação da sociedade com a doença e o desprezo com a saúde, que não é o estado da não-doença, mas sim um estado de energia, vitalidade, disposição e entusiasmo com a vida", completou.

Para o consultor, é necessário fazer tábua rasa de tudo o que consideramos correto, revisando o que aprendemos. "Somos sistemáticos, determinados em não respirar, em não dormir, em não nos cuidar. Mas temos que nos conscientizar de que não somos almas errantes, somos corpo. Ele é o nosso maior patrimônio", afirmou Cobra. "Estamos condicionados a perceber que a vida é um desastre. Cabe a nós enxergarmos uma nova realidade. Só o autoconhecimento nos fará entender que estamos na contramão da vida."