Stress e Trabalho

Ana Cristina Limongi França
Avelino Luiz Rodrigues

Recém lançado pela editora Atlas, o livro Stress e Trabalho é um guia para aqueles que convivem com o estresse, especialmente para aqueles viciados em trabalho, os workaholics. A edição, escrita pela professora doutora Ana Cristina Limongi França e pelo médico psiquiatra e psicoterapeuta Avelino Luiz Rodrigues, traz informações que ajudam a compreender o fenômeno e seus sintomas, que podem variar de doenças coronarianas, distúrbios no sono, apatia, irritação e até mesmo síndrome do pânico.

Ana Cristina é Psicóloga do Trabalho e estuda o estresse há 15 anos. Segundo a professora doutora, da área de Recursos Humanos da FEA/USP, nas fases mais adiantadas do estresse, ele pode até mesmo provocar morte súbita, como já vem ocorrendo no Japão. "É como um elástico, se fica muito tempo sob tensão, chega uma hora que ele rompe e perde a capacidade de reação".

O livro é especialmente dedicado àqueles para quem o estresse é uma referência para se sentir vivo, os workaholics. "Nós vivemos em uma sociedade que estimula a vida em aceleração e o perfil das pessoas competitivas, totalmente voltadas para o trabalho. Estamos na era da velocidade. Somos preparados a viver sob turbulência e acabamos achando isto normal. Porém, o custo nem sempre é positivo. Os estressados ficam neuróticos e perdem a criatividade", declara a autora.

Os efeitos nocivos são variados. A síndrome de Burnout, definida no livro como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, caracteriza-se por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação aos outros. "É quando toda energia da pessoa foi consumida, virou cinzas", define Ana Cristina.

As causas possíveis são igualmente diversas: chefias com controles cerrados, mudanças organizacionais, discussões sobre novas delegações de poder, redução da margem de lucro e concorrências externas ferozes. As páginas do livro são recheadas de esquemas que ajudam a entender as fontes de tensão em uma empresa.

"O estresse ocorre quando o organismo responde com o corpo, com a mente e com o coração às condições inadequadas de vida de forma contínua ou muito intensa", resume Ana Cristina. Os desafios sempre exigem uma certa adaptação, que reflete um grau maior ou menor de tensão. Mas, quando a tensão cresce mais que o suportável, ela pode ficar negativa e prejudicar a pessoa.

A contribuição do livro se destaca pela visão abrangente que se distancia da fria medicina tradicional, deixando de encarar o indivíduo como um corpo anatômico. A postura das análises, denominada por "Abordagem Psicossomática" funde aspectos físicos, biológicos e psicológicos. Assim, além de apontar as possíveis causas do estresse no cotidiano de cada um, indica como transformá-lo em tensão positiva. "Todos sofremos tensão e esta é uma forma de responder às exigências do dia a dia. O que não pode acontecer é ela crescer demais. Se isto acontece, o estresse passa a ser prejudicial", afirma a professora.

As conseqüências do estresse, porém, não se limitam ao indivíduo. "O estressado exige dos demais que corram junto com ele. Fica todo mundo batendo asas mas não há espaço para todos", ilustra Ana Cristina. O excesso de tensão também pode atrapalhar a comunicação, quando as mensagens não são transmitidas integralmente.

Com todas estas perdas em qualidade no ambiente de trabalho, as empresas brasileiras têm-se preocupado com o estresse de seus funcionários? Segundo Ana Cristina, a resposta é sim. No entanto, não estão instrumentalizadas para tal. "A maioria dos programas se limita a campanhas esparsas de controle sobre sinais clínicos, como obesidade e dores de cabeça". O essencial, de acordo com ela, seria melhorar a qualidade da rotina de trabalho e das decisões com relaxamento, além de buscar sistemas mais humanos de trabalho.

A freqüência de casos de estresse modificou a visão do trabalho. "Agora se diz que o lazer e o repouso são complementares ao estilo de trabalho. Ter o trabalho como único foco na vida é algo que empobrece. Deve-se saber dimensionar a própria vida", recomenda. No último capítulo, "Recursos para lidar com o stress", os autores trazem conselhos de como reorganizar o cotidiano.

De acordo com a professora, a primeira coisa a se fazer para quem sofre de estresse é valorizar mais o próprio corpo. "É preciso alertar para os sintomas que se repetem, como dor de cabeça e insônia. Não se deve esperar adoecer para se preocupar com o corpo". Ler o livro "Stress e Trabalho" pode ser o segundo passo.


Stress e Trabalho Guia básico com abordagem psicossomática
Autores: Ana Cristina Limongi França e Avelino Luiz Rodrigues
Editora Atlas, São Paulo, 1997, 133 páginas

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