Professor holandês fala sobre síndrome do lazer

Ad Vingerhoets, docente da Tilburg University, é considerado um dos mais respeitados pesquisadores dos fóruns europeus e americanos de medicina psicossomática

Prof. Ad Vingerhoets, da Tilburg University

Com o estresse presente nos dias atuais quem é que não sonha com a chegada do final de semana ou do período de férias para fazer uma viagem, praticar esportes ou simplesmente usar as horas de descanso para não fazer nada. Até aqui, nenhuma novidade. Porém, apesar de a maioria preocupar-se em usufruir o momento de lazer, há casos em que o ócio pode significar um verdadeiro tormento, chegando, em casos extremos, a gerar males como resfriado, fadiga excessiva, dores de cabeça ou musculares. Estamos falando da síndrome do lazer, termo cunhado pelo professor holandês Ad Vingerhoets, da Tilburg University, a partir de estudos empíricos.

O docente esteve recentemente no Brasil tratando o tema, durante encontro internacional sobre Qualidade de Vida no Trabalho, realizado na FEA/USP. Na ocasião, Vingerhoets apresentou os resultados dos estudos que vem desenvolvendo há três anos sobre o fenômeno da síndrome do lazer. Segundo ele, entre as principais sintomas detectados nas pessoas com a síndrome estão as dores de cabeça, resfriados, cansaço, fadiga excessiva, dores musculares, falta de energia ou náuseas.
Detalhe: sintomas manifestados apenas nos finais de semana. Para ilustrar como a síndrome de manifesta, Vingerhoets citou alguns exemplos nos quais as pessoas revelaram ter alguns dos sintomas, caso por exemplo da funcionário de um laboratório médico que alegou ficar resfriada sempre que saía em férias.

Há, segundo Vingerhoets, várias hipóteses para justificar os sintomas detectados na síndrome do lazer. Uma delas diz respeito aos aspectos biológicos. "Durante os finais de semana as pessoas costumam se expor a substâncias químicas, caso dos pesticidas usados para acabar com as pragas os jardim, e isso acaba provocando alguns problemas de saúde", ilustrou o palestrante.

Outra possibilidade está relacionada às transições do ambiente de trabalho para o ambiente de lazer. Há ainda explicações psicológicas e comportamentais. "Algumas pessoas costumam ingerir mais café ou dormir mais do que o de costume quando estão de folga. E, nesses casos, é comum sentirem enxaqueca. Servir de motorista para filhos ou ter que visitar a sogra nos finais de semana, são outras situações que acabam aborrecendo muitas pessoas", acrescentou.

O ambiente social também pode motivar os sintomas. Segundo o professor algumas pessoas, mesmo que inconscientemente, descobriram que ao queixarem-se de dor quando da realização de atividades domésticas, realizadas nas horas de lazer, estas acabam ganhando algum reforço da família. "Cada paciente tem seu sintoma favorito", revelou o professor.

Ad Vingerhoets é considerado um dos mais respeitados pesquisadores dos fóruns europeus e americanos de medicina psicossomática, já realizou inúmeros estudos científicos sobre o tema tanto na Europa como nos Estados Unidos e é autor do livro "Adult Crying - A Biopsychosocial Approach".

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