Palestra discute equidade e responsabilidade social

Programação reuniu representantes dos segmentos empresarial, do governo
e do terceiro setor, durante primeira plenária nacional sobre QVT

Luiza Russo, da Paradigmas Consultoria (ao microfone)

"Não queremos apenas treinar, mas educar as pessoas". A frase dita pelo Diretor Superintendente do Laboratório Fleury, Ewaldo Russo, serve para ilustrar a preocupação de alguns executivos brasileiros com o papel social de suas empresas. Russo foi um dos convidados para a plenária "Equidade e responsabilidade social como fatores estratégicos de QVT", que integrou a programação do encontro internacional sobre o qualidade de vida no trabalho, realizado na FEA. Também presentes, a Secretária de Educação do município de Santo André, Cleusa Rodrigues Repulho, a Coordenadora do Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor (CEATS), Rosa Maria Fischer, e a Diretora da empresa Projetos Paradigma Consultoria Luiza Russo, que atuou como mediadora dos debates.

O conceito de responsabilidade social, segundo a coordenadora do CEATS, deve estar engajado com uma proposta de desenvolvimento social integrado e sustentado. "Uma prática que não tem nada a ver com assistencialismo ou paternalismo", disse Rosa Maria. Para ela, não é possível falar de qualidade de vida no trabalho e qualidade de vida na sociedade sem pensar na premissa da justiça social. "Não importa saber se uma empresa doou 100 mil reais para uma causa ou outra, o que conta mesmo é saber se aquela doação ajudou a elevar o nível de renda dos moradores de uma favela, de 25% a 75%", ponderou a coordenadora.

Ela ressaltou ainda que a mesma preocupação que as empresas têm com relação ao custo benefício de suas atividades, deve ser canalizada em estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento pleno da sociedade. Para a coordenadora do CEATS, antes de qualquer atuação social, é preciso que a organização identifique como são desenvolvidas as práticas internas de equidade. "´É preciso ver se os salários pagos são dignos, qual é a política de terceirização, se o treinamento oferecido aos funcionários realmente traz resultados. Enfim, são políticas como essas que mostram o respeito pelo ser humano. É isso é um grande desafio que precisa ser enfrentando pelas organizações que queiram atuar socialmente", comentou.

A concepção de equidade social praticada pelo Laboratório Fleury exemplifica alguns dos pontos apontados pela coordenadora do CEATS. Segundo Ewaldo Russo, as ações da instituição são baseadas nos valores da empresa e extensivas para todos níveis da organização. Ele lembrou o modelo de administração participativa implantado no Laboratório e deu destaque para o programa social que está sendo delineado para atender as demandas internas. "Uma de nossas ações está voltada para a educação dos funcionários, onde chegamos a gastar 7% da folha de pagamento. Também distribuímos 10% dos ganhos do laboratório entre os funcionários, quando estes interferem diretamente nos lucros da empresa", exemplificou Russo. Além dessas práticas o Fleury mantém parcerias com entidades assistenciais como GRAAC e Cruz de Malta, tem projetos voltados para a inclusão de deficientes, por meio do qual emprega cerca de 20 deficientes visuais e, no momento, está formando um programa para atender um grupo de parentes desses deficientes. "Sempre procuramos manter uma relação de confiança com nossos colaboradores e clientes", comentou Russo.

A Secretária de Educação Cleusa Rodrigues Repulho aproveitou o encontro para apresentar os vários projetos que compõem o Programa Integrado de Inclusão do Município de Santo André. "São projetos já implantados e alguns em fase de desenvolvimento que visam atender uma população formada por 3540 famílias, cerca de 16 mil pessoas, que residem em áreas de risco ou favelas localizadas nos bairros de Sacadura Cabral, Tamarutaca, Quilombo II e Capuava", explicou Cleusa.

Segundo ela, os projetos estão focados em três dimensões: econômica, urbana e social. A primeira compreende um programa de renda mínima, de geração de trabalho por meio de incubadoras de cooperativas e um programa de micro credito e de incentivo a novos negócios. A dimensão urbana conta com programas voltados para implanta de infra-estrutura básica como redes de esgoto, água, drenagem, eletrificação e iluminação pública, entre outros. E os programas voltados para o social envolvem projetos de alfabetização de adultos, capacitação profissional e atividades sócio educativas dirigidas a crianças e adolescentes.

A Secretária defende a necessidade de políticas públicas em projetos de inclusão que resultem de parcerias intersetorias, caso do Programa de Inclusão desenvolvido em Santo André, cujo aporte financeiro foi formado com recursos disponibilizados pelo Governo Brasileiro (esferas federal, estadual e municipal), Banco Mundial, ONU e Comunidade Européia. O sucesso do empreendimento já foi reconhecido internacionalmente. "Este ano fomos considerados pela ONU como uma das 16 experiências mais exitosas no mundo, é único caso brasileiro", informou a Secretária.


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